sábado, julho 09, 2011

30 minutos de quase amor

O sorriso. Foi o sorriso, sempre é. Por todo o pouco tempo que estive perto, foi ele que me prendeu, que me tirou da rota e me jogou pro ar. Seu riso comedido, tomado de timidez, quase com medo de encantar – e encantando ainda mais. Seu riso contido, vazio de malícia e cheio de franqueza – frágil, gentil, sutil.
Sobretudo o sorriso, mas também o olhar, o beijo, o toque. O toque de leve, deslizando e desenhando formas, acariciando a pele como se deve, do modo afetuoso que conhece. Passou pelo rosto, pela nuca, pela boca. Estipulou um caminho e o repetiu seguidas vezes – delicadas vezes. A mão de pele macia e fina como instrumento, perambulando calmamente encontrou a minha. Encaixaram-se.
Os lábios movendo-se timidamente imploram um beijo. Que foi dado. A aproximação lenta, receosa. Os olhos cerrados. E as próximas ações somente seguiriam o fluxo imposto por nossos desejos. Todos os movimentos eram parte da mesma coreografia. Nossas bocas dançavam nela, assim como as mãos, cabeças, línguas ansiosas e em total sintonia – e harmonia, e euforia.
“Me observe”, pedi em pensamento, “tente ler em meus olhos tudo o que senti com esse beijo, porque se eu te dizer vai me achar dramático demais”. Seus olhos me encararam durante algum tempo considerável, talvez por resposta à minha expressão atordoada – era cedo, tinha de ser. E os olhos. Atentos, paralisados em direção aos meus. Seu olhar sincero pediu explicações, e eu expliquei. Do modo que sei e que posso fazer – beijei sua boca mais uma vez.
E por consequência da série de sensações, o deslumbramento, o fascínio – e a falta de domínio sobre tudo que estaria por vir. Os pensamentos aturdidos reviraram o que ainda restava de racional em mim, mas não arranjaram nada muito relevante. Já me sentia preso àquele beijo, àquele olhar – ao sorriso.
Tínhamos de ir. E então a despedida com mais um beijo. E mais um, e mais um, dois, três, e mais. Restou o medo, o medo de perder o que ainda não é – mas que tem tudo pra ser. O medo de nunca mais sentir os mesmos lábios, tocar o mesmo rosto, analisar os mesmos traços perfeitos e ser questionado pelo mesmo olhar preocupado. O medo de ter enfim encontrado o que sempre busquei – e não conseguir manter ao meu lado, colado a mim. Restou o medo.
Nunca acreditei em amor a primeira vista – e sinceramente continuo assim. Mas algo incomum aconteceu ali, tem que ter acontecido, ainda não estou ficando louco. Eu sei, existem coisas que não podem ser denominadas, apenas sentidas. Deve haver algum significado nisso.


“Até a próxima”, dissemos juntos. E “por favor”, completei em pensamento. A despedida é inevitável, mas se existir sempre um reencontro, não há com que se preocupar. Se não é amor, pelo menos já é um caminho.

5 comentários:

  1. "O medo de nunca mais sentir os mesmos lábios, tocar o mesmo rosto, analisar os mesmos traços perfeitos e ser questionado pelo mesmo olhar preocupado. O medo de ter enfim encontrado o que sempre busquei – e não conseguir manter ao meu lado, colado a mim. Restou o medo." Adorei, me fez chorar. :S

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  2. thiago danadinho, hahahahha
    adoreeeei thi meeeesmo.
    *---*

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  3. Que coisa mais FOFA! =)
    Tão delicado, tão gracinha. Adorei Thi. ^^

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  4. *-* amo esses momentos inexplicáveis que acontecem e que parecem que mudam tudo, né?!
    é lindo! AMEI AMEI!

    "quase com medo de encantar – e encantando ainda mais. Seu riso contido, vazio de malícia e cheio de franqueza – frágil, gentil, sutil."

    ps: não consigo comentar logada.
    Aninha

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  5. Lindo texto, difícil escolher apenas uma passagem como a favorita...mas gosto do final
    "Nunca acreditei em amor a primeira vista – e continuo assim. Mas algo incomum aconteceu, isso é fato. Existem coisas que não podem ser denominadas, apenas sentidas. Deve haver algum significado. A despedida é inevitável, mas se existir sempre um reencontro, não há com que se preocupar.
    Se não é amor, pelo menos já é um caminho."

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